O alagoano Jorge de Lima (1895-1953) foi o poeta mais original do modernismo brasileiro, o mais preso à tradição e, talvez, o mais nacional. Publicou os seus primeiros versos ao gosto parnasiano (XIV Alexandrinos). Alguns poemas deste livro tiveram imensa receptividade popular, como O Acendedor de Lampiões, incluído durante dezenas de anos no repertório de todos os profissionais da declamação.Liberto da camisa de força parnasiana, identificado com a liberdade de expressão do modernismo, entrega-se à experiência regionalista (Poemas, Novos Poemas, Poemas Escolhidos, Poemas Negros), retratando hábitos e costumes, lendas e personagens nordestinos, com um inconfundível sabor brasileiro, impregnados de sentimento cristão. Ressaltando a naturalidade desses poemas, observou José Américo que o poeta "não monta em cavalo de pau com ar de quem amansa potros chucros".A impregnação do sentimento cristão, a aproximação com a Igreja Católica, a intenção de "restaurar a poesia em Cristo" caracterizam os poemas de Tempo e Eternidade, A Túnica Inconsútil, Anunciação e Encontro de Mira Celi. "É agora o homem católico, o sacralizador da matéria do mundo, o vidente que antecipa o estado de justiça e de pureza a que a humanidade voltará um dia, o poeta sem malícia para o qual o sexo e a carne foram glorificados pela encarnação de Cristo", escreve Murilo Mendes.Após o virtuosismo do Livro de Sonetos, atira-se à mais ousada, perturbadora, "obscura e secreta" experiência da poesia moderna brasileira, Invenção de Orfeu, de difícil compreensão em tantos trechos. Para Gilberto Mendonça Teles, prefaciador dos Melhores Poemas Jorge de Lima, não só é o grande livro de Jorge de Lima, "mas também o grande coroamento estético de toda a sua poesia e, de certa forma, de toda a poesia brasileira na primeira metade deste século".