Poder degustar o sukiyaki de domingo significa para o ex-professor Ma um revival de seus tempos de fartura. Sua condição financeira decaiu muito, agora que passa pelo segundo casamento. Com a atual esposa Kyung-sook Don, ele vive num minúsculo e pouco aprazível apartamento em Seul, todo cheio de rachaduras nas paredes e cheirando a urina de gato. Se a princípio a ideia de ter se casado com um intelectual encantava a mulher, a constante falta de dinheiro logo passou a pôr o núcleo familiar em polvorosa: Ma é orgulhoso demais para trabalhar, o que vive rendendo à esposa crises histéricas acachapantes - e compreensíveis. É ela, afinal, quem traz dinheiro para casa, quem sustenta o lar, o que não deixa de ser uma crítica da autora do livro, Bae Su-ah, quanto à fragilidade da figura masculina no contexto social da Coreia do Sul contemporânea. O "sukiyaki de domingo" funciona, portanto, como uma metáfora daquilo que os personagens desta obra almejam, um ideal de consumo, a materialização das (parcas) ambições que os movem. Porque Sukiyaki de domingo, o livro, trata de uma Coreia do Sul decididamente destoante da reluzente imagem do país consagrada no imaginário ocidental: nestas páginas, somos iniciados ao "Tigre Asiático" em seu lado underground, o de suas periferias, tão semelhantes às de quaisquer paragens terceiro-mundistas. Logo constatamos que os efeitos da pobreza são os mesmos em qualquer cenário, notadamente a dificuldade de comunicação, e de afeto, nas relações sociais e familiares, e as fagulhas dessa incomunicabilidade sempre prestes a gerar uma fogueira de violência.Primeiro romance sul-coreano com traducao vertida diretamente do idioma original, o livro se envereda por um lado underground da Coreia do Sul, definitivamente destoante de glamour capitalista embutido na reluzente imagem de Tigre Asiatico. Com estrutura fragmentaria, a narrativa de forte critica social mostra como a falta de dinheiro, ou a busca por ele, afeta o cotidiano ordinario - por vezes desembocando na violencia - de uma serie de personagens, entre vagabundos, desempregados, jovens atras de um bico e outras figuras igualmente marginalizadas pela sociedade.