Há uma ideia corrente segundo a qual pouco se lia no Brasil no século XIX. Contrariando essa máxima, muito repetida mas pouco fundamentada, o livro Leitores de tinta e papel apresenta contundentes dados sobre uma fração do público leitor de literatura no Rio de Janeiro e em São Paulo, em meados do século XIX – mais especificamente sobre leitores de romances e crônicas publicados na forma de folhetins em jornais das duas cidades. Provavelmente, havia poucos leitores eruditos no Brasil no século XIX, que leriam aquilo que seus herdeiros intelectuais apreciariam no futuro. Mas havia quem devorasse textos e mais textos de Alexandre Dumas, Eugène Sue, Pigault Lebrun, Camilo Castelo Branco, José de Alencar, Fagundes Varela entre tantos outros. Felizmente, eles também tiveram herdeiros intelectuais, inteligentes e vigorosos, como Alexandro Paixão, autor deste livro. Partindo de informações sobre frequentadores de um gabinete de leitura, da consulta a cartas e manuscritos, da análise de documentos e impressos diversos, este trabalho mostra que a leitura não era um privilégio das camadas dominantes e tinha considerável espaço na sociedade brasileira oitocentista. (Márcia Abreu)