Não há dúvida de que a primeira pergunta que fará a si próprio o jurista que ler este livro, Psicologia Jurídica, é a de se o estado atual da psicologia justifica ou não a tentativa de aplicar em forma científica seus conhecimentos ao campo do direito, à procura de maior perfeição de sua atuação em cada caso particular. Esta pergunta justifica-se, entre outras razões, pelo fato de que a Psicologia, que a maioria de nós estudou no curso secundário, não parecia poder abonar essa pretensão. Quanta gente adquiriu, em seus tempos de bacharel, a ideia de que esta matéria era pouco conhecida pelos que a ensinavam e a considerou como uma de tantas disciplinas que só podem ser aprendidas com a esperança de esquecê-las. Não obstante, a psicologia atual é algo mais do que isso. É uma ciência que, pelo menos, oferece as mesmas garantias de seriedade e eficiência que as restantes disciplinas biológicas. Quem duvidar pode convencer-se da verdade de nossa afirmação, apenas considerando os resultados que proporcionou sua aplicação a outros ramos do saber, sem contar aquele do qual nos ocupamos aqui: a medicina, a sociologia, o comércio, a indústria, a pedagogia, a arte, a política e a religião são, hoje em dia, em boa parte, tributária da Psicologia aplicada, mas agora não é ocasião de demonstrar quantos benefícios obtiveram com isso. A explicação da diferença existente entre a que poderíamos denominar psicologia clássica ou filosófica (que até há pouco era a estudada nos centros oficiais) e a psicologia moderna ou biológica é bem simples: a primeira acreditava que seu objeto de estudo era a alma; a segunda, mais modesta, contenta-se em investigar os fenômenos psíquicos, isto é, o conjunto de fatos que formam, subjetivamente, nossa experiência interna e que se acusam do ponto de vista objetivo como manifestações do funcionamentoglobal do organismo humano ou, dito de outro modo, como ações da pessoa. A moderna psicologia não pretende, por conseguinte, estudar a essência mas os resultados da atividade psíquica e, para isso, baseia-se, como toda outra ciência natural, na observação e na experimentação, utilizando para a elaboração de seus dados os dois métodos lógicos fundamentais, a análise e a síntese, e comprovando a cada passo o valor de suas afirmações por meio do cálculo matemático, especialmente sob a forma do cálculo de correlação.(...)