Acusado de homicídio, o protagonista-narrador de "Coivara da Memória" passa as horas entre pilhas de processos e a redação de suas memórias, enquanto aguarda o julgamento. As razões do crime só aos poucos vão se fazendo entender, pois a rememoração obsessiva vasculha cada canto de suas lembranças. Sem maniqueísmos, e em passagens de raro lirismo, o protagonista constrói o inventário de personagens complexos - às vezes dúbios pelas incertezas da memória - que marcaram profundamente sua infância, adolescência e juventude. Ao revisitar estes e outros tantos personagens, numa linguagem em si mesma ancorada naquele mundo agora feito em cinzas, o narrador se deixa entrever nessas lembranças pontuadas por ódios, injustiças e violências - mas também por gestos de generosidade, retidão e ternura, certo de que só a memória pode torná-lo mais humano.