Insensatez é (também) um romance geracional.Atravessa uma época marcada pela bossa nova, pelosBeatles, pelos festivais de MPB. Pela lenta afirmaçãodo desejo e pela alteração dos costumes familiares.Mas vai muito além — no tempo cronológico e nosignificado. Pois é também um romance sobre o amor,as mutações sociais e os desastres que pairam sobreexistências individuais e coletivas. O par formado porMaria e Orfeu — ela, uma jovem branca de classe média;ele, um pintor mestiço de origem humilde — viola,com erotismo incandescente, os preconceitos raciaise os tabus brasileiros, para então sucumbir à força dasconvenções. E se esse quadro remete inicialmente ànostalgia de uma era utópica, o desenrolar do enredourdido por Cláudio Furtado atinge o momento em que,sob o peso de transformações urbanas e históricas,tanto afetos quanto liberdade sexual, valores éticosou estéticos se degradam (ou se “coisificam”),perdendo a dimensão libertária e expondo de formaseca um turbilhão de vidas fraturadas.