O magistério, no Brasil, nasceu atrelado ao projeto da Igreja Católica no período colonial. Os religiosos foram os primeiros docentes do país em um grande empreendimento de evangelização: a alfabetização não era uma prioridade nesse projeto, mas acabou sendo atingida indiretamente, pelo menos para uma pequena parcela da população. Com o passar do tempo e a lenta adequação da nação ao sistema produtivo mundial, a figura do religioso professor acabou sendo substituída pela religiosa professora, em especial a irmã de caridade. O ingresso da mulher no mercado formal de trabalho liberou-a para as funções que eram consideradas uma extensão da maternidade: os cuidados com a saúde e a educação; a enfermeira e a professora. Quando o sistema público de ensino começou a ser estruturado no país, já na República, várias correntes teóricas estrangeiras defendiam o ensino laico, abrindo espaço para a figura da professora primária, normalista, funcionária pública. Essas interpretações influenciaram o país, sem dúvida, em especial o Centro-Sul cafeeiro, centro da vida econômica da época; entretanto, em muitas regiões o protótipo de educadora ainda era a freira católica: ordeira, trabalhador,; abnegada, honrada, anulando a si mesma em função de um ideal, casta. Por mais paradigmático que possa parecer, é a religiosa que se constituirá na principal matriz de educadora para uma boa parte da população brasileira, durante certo período, com reflexos culturais e consequências profissionais que ainda se fazem sentir nos dias atuais. Essa é a reflexão dessa obra.