Sou AMIGO DE EVERARDO, é bem verdade. E seria preciso escrever quase um ensaio para dizer as afinidades que nos cercam e transcendem, as palavras muitas que guardamos e os silêncios que transmitimos. Como e quanto admiro a sua figura, seus compromissos éticos, sua coragem, sua gentilíssima aspereza, se me permitem, com as primícias do sertão que o habita. Um homem aberto. Um cosmopolita de raiz. Quer o mundo. E os céus de Inahmuns. Sou amigo de Everardo é bem verdade. Mas preciso dizer que o conheci por escrito. Era um poema forte, intenso, as mãos seguras e leves. Começamos um diálogo, marcado pela literatura brasileira, pelo mundo árabe, e já não sei dizer por quais e por quantos caminhos. Seus poemas deram início às mais finas tramas da literatura e da amizade. Mas era preciso reunir em livro a sua obra, ou uma parte dela. E assim atingimos a extensão de seu pensamento, a destreza da forma, cheia de sutilezas, uma técnica a serviço da emoção, que é o que me encanta. E as partes do mundo. As influências. As confluências. Todo o modernismo brasileiro. E o de Portugal. E Mauro Mota.E Joaquim Cardozo, de cujo autor organizou a poesia completa e a prosa. E Bandeira. E Drummond. E Cabral. Uma riqueza de invenção e recriação. Uma escola das formas sutis. Coisas sublimes. Dolorosas. Isentas muito embora de fáceis narcisismos e absurdas comiserações. Everardo traz do sertão o silêncio. A aspereza. E sobretudo a delicadeza. Poucas vezes em minha vida me deparei com tantos contrários na poesia brasileira. Sou amigo de Everardo, mas sou mais amigo de sua poesia. Gosto de Platão, mas prefiro a verdade. E a verdade dessa poesia me cobre de uma vasta emoção. A áspera medida. E o incomensurável. Ah! Esse pacto de silêncio e liberdade... Marco Lucchesi