"A geografia da escravidão no território do capital narra como o outro essa variante peculiar do múltiplo e multicolorido nós tem sido tratado nestes mais de 500 anos, em específico no coespaço hegemônico, apelidado há bem pouco tempo de Aldeia Global. Tomando o território como espelho de Narciso, atesta que a destruição do outro-índio representa a derrota do nós-humano e que a ânsia insana do lucro tão apenas distancia, para longe das vistas, as antigas formas do existir livre, solidário e harmônico das aldeias locais, de outrora e d’antanho. Como pares dialéticos combinados desigualmente pela cobiça, a renúncia pela alteridade e a ruína do outro alto içam a imagem disforme, estranha e alienada do nós, tal qual o esfarelamento dos territórios sagrados (tekoha), que se impõem convolados ao robustecer geográfico dos impérios transnacionais. Desmascarando um pouco dessa saga, dessa aventura desventurada a que foram e são submetidas constantemente essas facetas do outro, exposto aos mais diversos tipos de golpes (físicos, mentais, emocionais, jurídicos etc.) desde a primeira Grande Descoberta, comprova-se, neste mal recém-nascido século XXI, o quão semelhantemente nos encontramos a todos encobertos pela lama da barbárie, escorrida pelos mandarins imperiais e camuflada por seus lacaios colônicos, personificados por lumpemburguesias entreguistas, como a nossa. Indispensável à análise do metabolismo socioespacial burguês, a obra contribui valorosamente à desmitificação dos mimetismos paisagísticos e pseudoprogressistas, pondo a nu a animalidade insaciável do capital-camaleão, o qual se transforma para conservar, reproduzindo-se, ampliadamente, em níveis quantitativo e qualitativo, para territórios e povos diferentes arrasar. "