Ainda hoje consigo me lembrar com clareza da sensação de reencontro e descoberta que foi assistir, em 2006, à montagem do Círculo de Giz Caucasiano, de Brecht. A competência na atualização de Brecht funcionou como um forte sopro de vida e tive a certeza de que estava diante de algo novo e com grande potência estética e política. Ao ler Ensaios sobre o Latão, de Priscila Matsunaga, encontro um exercício refi nado, rigoroso e ao mesmo tempo atravessado de vida e de alguma esperança, muito fi el ao primeiro impacto que o trabalho do Latão havia me causado. Um trabalho minucioso, fruto de uma investigação pessoal para a obtenção do título de doutorado, mas que foi ao mesmo tempo parte do próprio grupo, que ela acompanhou de perto, com a cumplicidade necessária de um trabalho coletivo. Sedimentado por anos de pesquisa, finalmente vem a público, indo além das salas de congressos e seminários acadêmicos. Tive o privilégio de acompanhar o fi o que aos poucos se encorpou e tomou a forma de livro que agora está em nossas mãos. Não haveria momento mais importante para que isso acontecesse: exemplo consistente de pesquisa acadêmica, fortemente ancorada numa experiência interdisciplinar e inovadora, sem perder de vista a enorme acumulação crítica existente no país. Contradizendo to da a violenta campanha anti arte e anti marxista em voga hoje, é um respiro de inteligência e sensibilidade. Com alterações significativas entre a pesquisa concluída em 2013 e o livro que agora temos em mãos, destaco de imediato a força de “Para lugar nenhum”, que nos joga sem rodeios para a grave cena de 2018, no último trabalho do Latão. Dessa forma, Priscila consegue se manter fiel ao sentimento maior que a guiou em todo o trabalho: uma análise crítica que acompanha a pulsação deste enorme presente que nos desafia. Mas estejam atentos: não encontrarão aqui alguém que simplesmente os levem pela mão para atravessar a tormenta. Ao contrário, é preciso perceber antes a dimensão da tormenta. Assim como