Há algo de selvagem na escrita de Maria Grazia Calandrone. É preciso explicar: refiro-me ao selvagem pensando na qualidade daquilo que nasce, cresce e vive como um pequeno milagre, sem demandar atenção ou cuidado, e, acima de tudo, na qualidade daquilo a que não se pode domesticar. Falo de quando amor, vida e morte subvertem o que poderia ser considerado a justa medida. Adotando diferentes registros, a poesia de Calandrone flerta com intensidades. Em um poema desta seleção, ela diz: como são laboriosas as criaturas,/com quanta atenção passam os pincéis/nas pranchas de madeira/no entanto sabem que devem morrer. E mais adiante, no fim desse mesmo poema: o sorriso que/diz eu estou vivo, eu neste momento/estou vivo pra sempre. Viver o momento como quem vive para sempre é não abrir mão da vida durante aquele instante. É isso que, ao que me parece, ela faz tanto no conteúdo quanto na forma da sua poesia.