A primeira coisa que salta à vista, em Avarias, é o manejo sábio do gênero. Aqui, o conto, dentro de sua natureza mais típica, concentra-se no clímax. A atmosfera se cria ao sabor dos ditos populares, dos conjuros; os personagens se apegam a rezas, rituais e estranhezas, com suas vivências ganhando dimensão simbólica. Nada disso vem à toa: a destreza nasce do grande senso de observação de Glória Diógenes, provavelmente conquistado em sua profissão, como pesquisadora e cientista social. Há muitas marcas de força no livro: muita água, travessias, ímpetos de cavalos selvagens. E este é um livro que exala mormaço, transpira o bafejo contido no palmilhar do sertão mesmo que também percorra outras paragens. Em algumas histórias (sobretudo as narradas em primeira pessoa), há uma dicção poética tão intensa, que me senti levada a ler as páginas em voz alta. Elas pediam récita. Avarias põe a figura feminina em evidência, dá voz a Marílias e Ismálias. É um livro sobre desvarios e (...)