A experiência da infertilidade costuma ser uma vivência inédi­ta, angustiante e indagativa para muitas pessoas. Nesta trajetória o indivíduo se depara com uma circunstância inesperada, na maioria das vezes, que o leva ao universo da diferença, à margem de padrões estabelecidos, ao universo sempre ameaçador do estigma. Sentir-se estigmatizado é portar uma marca, desviar de uma norma e sentir-se à margem. Assim é com quem se depara com os problemas da fertilidade e se lança na busca pela resolução do que lhe parece um de­feito. O desenvolvimento das tecnologias reprodutivas veio colaborar e dar esperança a esta parcela da população que en­frenta esta árdua experiência. E talvez a existência deste estigma tenha sido um grande im­pulsionador deste desenvolvimento. Mas será que a resolução positiva de um tratamento reprodutivo pode fazer desaparecer as marcas da experiência estigmatizante? Este estudo traz esta questão mostrando a experiência daque­les que enfrentaram a infertilidade em algum momento de suas vidas e como a percebem, alguns anos depois. Ou seja, busca olhar se o estigma vivido se resolve com o sucesso nos tratamentos reprodutivos ou permanece como uma cicatriz, capaz de suscitar temores, apesar do tempo decorrido. Para tanto, dialogou com as ciências humanas, uma vez que a temática da infertilidade e o uso da Reprodução Assistida propor­cionam esta interlocução e podem enriquecer a experiência tanto de profissionais da área da saúde que atuam neste campo quanto a de pacientes desejosos de realizar seu projeto parental.