E haja luz: com o fogo não se brinca/porque o fogo queima. É o que diz Adília na epígrafe deste livro de poemas, quase como se, pela própria escolha de pontuar tais palavras, Déborah Bacelar falasse que tecer sua poesia e exibi-la ao mundo fosse ato de combustão, perigoso e arriscado. Mas qual o risco? O risco do desejo, de querer. Esse ato, tal qual sua tessitura poética, se desdobra no campo do subversivo bíblico, revirando as entranhas hipócritas de falsos dogmas e atribuindo ao já conhecido texto novos e poderosos sentidos. Transita também no âmbito da memória, da afetividade familiar não construída, do significado de escolher liberdade mesmo quando o contrário seja o considerado normal. É poética de vida, morte e, claro: de desejo. A lumieira está posta, e o fogo está pronto. Brinquem. Matheus Santos