A segunda edição do Cultura da Punição: a ostentação do horror nos envaidece e, sobretudo, propõe novos desafios. As interfaces construídas, para além de se prestarem ao permanente diálogo, não apenas entre nós na medida em que nos faz outros a nós mesmos, pôs-nos diante dos próprios (des)encontros e diferenças de abordagens, inspiração decisiva na direção inaudível da consolidação de traços comuns em matéria da inesgotável, incansável e resistente luta de crítica ao poder punitivo diante da intrínseca naturalização da violência. Se o gesto genuíno da escrita não encontra seu sentido nem propriamente no texto nem no seu definido autor, mas guarda a temporalidade singular do movimento poético do leitor quando este entra em cena, qualquer qualidade ímpar da obra apenas se dará tendo em conta e contando com tal condição radicalmente plural. A escrita do livro, diz-se, desde logo, é um convite aberto. Assim, de maneira singela, adiante das construções empenhadas na versão original, podemos dizer que o texto atualiza e evoca novos ares, inclusive aduzindo revisões necessárias e ampliações agudas. Em especial, na primeira parte, agrega a indagação acerca da soberania política que ampara o poder punitivo, dali percebendo-se a obscenidade do Mal de Polícia. Noutro aspecto, o segundo apanhado aprofunda as dimensões da ilusão que estrutura a crença sob o sistema penal como maquinaria hábil a funcionar cinicamente muito bem, de acordo com a finalidade ditada por sua economia punitiva, fixadora da sua perene linha de seletividade, estigmatização e repressão.