Deter-se ao minúsculo e regatar o mínimo: com poucas palavras dizer o mais prenhe de sentido. A poesia de Ana Maria Vasconcelos transporta uma bolha de significantes essenciais prestes a estourar. Como lembra a própria poeta, a ideia de transporte é o que está na raiz da palavra metáfora: metáfora/ significa transporte/ ir de uma coisa à outra/ através da palavra. Transferindo um sentido próprio até o seu sentido figurado, os versos de Longarinas mantêm um equilíbrio delicado que procura não estourar, de tão cheia, essa bolha de cenas minúsculas. Tudo é muito cinematográfico, embora a ação decorra apenas através de uma atenção zen, rente ao movimento mínimo. Longarinas é já o quarto livro de Ana Maria, e se insere já num percurso bem definido que, de um lado, privilegia a forma curta, e, de outro, cria poemas articulados por uma linha bem mais que tênue. Aqui as linhas são imaginárias, pois, desde a lição de Sophia de Mello Breyner, o poema perfeito é não quebrar/ a (...)