No Brasil é mais provável que um escritor acabe virando taxista, do que um taxista venha a tornar-se um escritor. Mauro Castro, no entanto, é um taxista capaz de contrariar esta lógica. Quem acompanha sua coluna no jornal Diário Gaúcho, ou seu blog na Internet, já conhece a capacidade deste profissional do volante de verter para o papel as incríveis histórias do cotidiano de um motorista de praça. Observador privilegiado, o escritor por trás do volante capta as situações mais diversas possíveis. Entre as quatro portas do seu táxi ou pela moldura do pára-brisa, se desenrolam casos que beiram, muitas vezes, o absurdo, o surreal. Tudo é registrado no verso de panfletos que o taxista recebe nos semáforos e posteriormente passado para o computador, em um processo de criação tão improvável quanto o talento literário que brota em meio ao caos urbano. Quem espera encontrar neste livro o relato puro e simples do dia-a-dia de um taxista pode ter, porém, algumas surpresas. Muito mais do que o conteúdo, o que chama a atenção é a forma como as histórias são narradas. Com um estilo apurado e literário, seu texto flui aos olhos dos leitores num bem-humorado fazer da linguagem que dribla as armadilhas das letras com a mesma habilidade com que o motorista percorre os intrincados caminhos da cidade.