O Tiago é extremamente honesto no seu paradoxo romântico/não romântico. É uma pessoa que tem na mucosa a sua bússola, que aponta não sei para qual direção. Não sei nem se ele quer alguma direção. Às vezes, tenho plena crença que o seu discurso de busca, nada mais é que uma busca pela solidificação de um conceito de vida que ele estabeleceu para ele. Pessoas em geral solidificam relacionamentos; ele solidifica teorias para sustentar e manter a crença em seu estilo de vida. Legítimo? Claro! Nada mais legítimo que ter convicções, sejam elas quais forem. O livro não se trata em fazer uma propaganda da solteirice. O estilo de vida dele está em algum limiar entre romantismo e liberdade, que em sociedades ocidentais é mais complicado de descrever. Ao mesmo tempo que o Tiago fala de números, fala de pessoas pontuais, de situações pontuais, onde se consegue detectar um coração ali. Um coração que funciona movido à novidade. E álcool. O texto entra em quinta marcha e não sai dela nunca mais. E com todos os riscos que ela oferece. Em alguns momentos você tem a impressão de que está ameno e logo depois vem aquela curva em meio à neblina que apareceu do nada. O Tiago tem isso nele e eu estava preparado, inclusive para a urgência que ele me pediu para ler seu livro. Ele sabia que eu iria ler de uma vez só. Não tem como. Não é o tipo de livro que você lê um poema aqui e outro ali. Você já está em quinta marcha e quer ficar com a cabeça para fora da janela e sentir o vento. Eu quis acender um cigarro, mas mesmo assim não parei. E essa me pareceu a forma mais autêntica de ler este livro, principalmente porque é como eu conheço o Tiago. Sempre o vi bem acima da velocidade permitida e sempre me questionei se aquilo era dele ou se ele só procurava os amigos quando estava assim. Nunca saberei. E quer saber? Já nem me dou conta mais. Tanto é que, quando li, automaticamente o fiz de forma intensa.