O “milagre econô­mico”, nos anos 1970, cantado e prosa e verso pelo governo militar como salvação nacional, é uma sinfonia patética composta pelos ideólogos do poder, a sugerir um Novo Tempo na alma popular em que o prazer consumista soa como uma Ode à Alegria, sem a genialidade de Beethoven.  Nessa paródia cantada pelos represen­tantes da tirania, as palavras crepitam como labaredas queimar sonhos e quimeras, restando somente cinzas no fundo dos corações.  Mas quem mais ousado irá gritar e denunciar essas mentiras confeitadas com as cores do prazer e da ilusão? Quem tão tolo arriscaria juntar, de mãos limpas, as cinzas de tantas esperanças perdidas? Só resta esperar que um dia brotem de novo, no coração da juventude, os sonhos de liberdade pelos quais tantos tombaram, apesar da incerteza de que o solo sem o húmus do ideal humanista e libertário frutifique outra vez. O contraponto dessa paródia ainda se ouve nas poucas vozes do que res­tou da juventude corajosa e idealista, que vem morrendo aos poucos, como remanescentes imolados às mentiras de um governo que, enfim, conseguiu o “milagre” de enganar tanta gente tanto tempo.