Sem mim não há dia é o livro de estreia de Fellipe Fernandes F. Cardoso. Nele, somos chamados a ver o mundo por trás das retinas do narrador: um homem que um dia acorda sem os movimentos do corpo e completamente cego. O narrador, que é o único personagem não descrito e sem nome (sabemos dele apenas F., uma inicial na assinatura de uma carta), nos é apresentado por meio de seu raciocínio elegante, altamente filosófico, de vocabulário rebuscado e pensamento analítico. O narrador perde sentidos, mas, como num mecanismo de compensação, sua percepção se aguça e a feitura do livro se torna, na leitura mais do que tudo, uma aventura sinestésica. A limitação pelo espaço do corpo incapacitado é o ponto de partida para uma viagem intensa a um universo de imagens e memórias, sempre com muita atenção aos detalhes, ao que é nuance; àquilo que está à margem, mas sem o qual não haveria rio. No decorrer da narrativa, somos levados a expiar e espiar suas memórias. O romance então vai a todos(...)