A sociedade mudou de rumo. Ganhou em tecnologia o que perdeu em consciência. Avançou na economia o que recuou em sensibilidade humana. Cultiva o corpo, ignora a alma. Cultua o negócio, despreza a ética. Vive o hedonismo consumista, deteriora o planeta. Produz leis, nega os direitos. Proclama igualdade, segrega os diferentes. Sublima o presente, sepulta o futuro. Consagra o egoísmo, minimiza a moral. Nesse mundo nascem as novas gerações. Sobrevivem a toda sorte de carências, particularmente à afetiva. As crianças não são mais acolhidas no ninho familiar, inexiste o berço da ternura. Crescem na atmosfera da ansiedade. Ganham muito mais carrinhos do que carinhos; brinquedos do que folguedos; mais delícias do que carícias; mais braço do que abraço; e muito mais clamor do que amor. São contagiadas pelo estresse desde a gestação. Atravessam mal a primeira infância, intoxicadas por estímulos prejudiciais ao seu desenvolvimento cerebral. Perdem a chance de aprender a aprender. De sujeitos de direitos passam a objetos de interesses que lhes desfiguram a cidadania nascente. Os cidadãos verdadeiros são aqueles que não renegam o privilégio de uma infância vivida em plenitude. Nunca deixam de ser criança. Guardam coerência, espontaneidade, espírito inovador e autenticidade. São crianças maduras e experientes. Precisam unir-se em defesa do grandioso mundo infantil. Só assim a humanidade garantirá o futuro da espécie. Autor do prefácio, o senador Cristovam Buarque observa: Se este livro do professor Dioclécio Campos Júnior chegar aos historiadores do futuro, eles vão perceber que, no século XXI, havia pelo menos um cidadão, intelectual, pediatra, capaz de indignar-se, denunciar e manter a esperança, ter proposta, desmistificar os que tentam esconder o problema sob a ilusão de falsas conquistas; e perceberão que ele fez isso com um estilo límpido e, em alguns momentos, poético.