Um olhar retrospectivo na história da sociedade brasileira ao longo do século XX identificará inegáveis transformações: o desenvolvimento de um amplo setor industrial; o paralelo processo de urbanização; a estruturação de representativos setores médios; a diversificação religiosa; a constituição, enfim, de uma sociedade civil crescentemente plural. Contudo, estas transformações coexistem com incômodas permanências oriundas de épocas anteriores. Continuam não resolvidas em nossa sociedade várias questões que remontam aos primórdios de nossa história; essa sobrevivência nos traz a impressão de que passado e presente não necessariamente se anulam, mas convivem dialeticamente. A "questão agrária", representada pela permanência da grande propriedade e matriz de inúmeros conflitos sociais, por vezes violentos; a "questão do negro", geradora de debates e impasses sobre a natureza das políticas públicas necessárias à sua resolução; as profundas desigualdades sociais e regionais que parecem nunca findar. Estas "questões" exemplificam problemas estruturais que a modernidade brasileira não conseguiu resolver, ou, melhor dizendo, que a modernidade brasileira incorporou. Dentro desta perspectiva enquadra-se a "questão educacional" brasileira. Para os diferentes sujeitos atuantes na vida política brasileira, a educação está presente como um problema estrutural de nossa modernidade. Os caminhos escolhidos para efetivar essa modernidade produziram uma realidade bastante relevante para a análise, apresentando quadros de transformação, como pode ser exemplificado pela grande expansão do setor público, após as décadas de 1930 e 1940, pela escolarização da imensa maioria da infância, pelo desenvolvimento do ensino profissional e técnico e de uma rede de instituições públicas de ensino superior. Uma outra face da "questão educacional" é a grande participação de um setor privado no interior do sistema educacional brasileiro. Analisar as estratégias de sobrevivência desse setor, em seus diferentes matizes, seus discursos e práticas políticas, assume grande relevância para o entendimento da atual configuração da educação brasileira.