No lançamento da Coleção Avenida Paulista, um personagem que não poderia ser mais paulistano: o ponta-esquerda Canhoteiro, do São Paulo FC, evocado pelo jornalista e escritor ponte-pretano Renato Pompeu. Com efeito, embora nascido no Maranhão, Canhoteiro atingiu o auge de sua fama no fim dos anos 1950, em São Paulo, na mesma época em que a cidade finalmente se tornava maior do que o Rio de Janeiro e alcançava a projeção nacional que só cresce até os dias de hoje. Canhoteiro, que fazia pela esquerda o que Garrincha fazia pela direita, não chegou a alcançar essa projeção nacional ? era pouco conhecido fora de São Paulo, mas se tornou uma epítome da paulistanidade que se formava a partir do cadinho de raças e etnias da cidade que se tornava grande metrópole. Capaz de fazer embaixadas com moedas e com laranjas, capaz de driblar o mesmo marcador catorze vezes seguidas, Canhoteiro, foi o primeiro jogador de futebol brasileiro a ter um fã-clube próprio, composto por sãopaulinos e não-sãopaulinos, e seus bonés são vendidos até hoje pela Internet. Três décadas após sua morte, só foibem conhecido dos que freqüentavam os estádios de futebol paulistas, dos que acompanhavam o rádio paulista e liam jornais paulistas (as rádios e jornais cariocas dominavam todo o país, inclusive a Rádio Nacional do Rio era a mais ouvida no interior de São Paulo) e dos que conversavam sobre futebol nos ambientes públicos paulistanos, como os transportes coletivos, os bares e outros lugares. Falar sobre as façanhas de Canhoteiro, admirado por torcedores de todos os clubes, era assim participar de uma exclusividade paulistana, afim à Avenida Paulista.