Com este trabalho, a partir da obra De Gestis Mendi de Saa (Sobre os feitos de Mem de Sá), de S. José de Anchieta, S.J. (1534-1597), pretendemos estabelecer uma análise do relato literário da colonização dos portugueses no Brasil como um ciclo mítico, tendo por base a perspectiva épica da chegada de Eneias à Hespéria e o mito hespérico. Assim, o título do trabalho: O Brasil hespérico no De Gestis Mendi de Saa resume a nossa proposta de analisar, a partir do interessante poema anchietano, o humanismo quinhentista brasileiro e as ideias da formação colonial do Brasil, demonstrando como a reinscrição da viagem mítica de Eneias à Hespéria serviria como diretriz para a análise da formação da sociedade colonial brasileira, na representação épica anchietana. Nosso aporte inicial para estudar o De Gestis Mendi de Saa foram as fontes de 1563, o Manuscrito de Algorta e a edição do grande jesuíta e filólogo Armando Cardoso. Valemo-nos, para tanto, de seu texto estabelecido e de seus argumentos que confirmam a autoria do poema como de Anchieta, trazendo uma nova tradução do Livro I da obra novilatina anchietana. Utilizamos, igualmente, a recente edição fac-símile da Fundação Biblioteca Nacional da editio de 1563 de Coimbra. Esse corpus de trabalho foi nosso primeiro guia para a contextualização do latim humanista do Brasil, junto ao De Beata Virgine Dei Matre Maria, aos Poemas Eucarísticos, entre outros, que compõem os Monumenta Anchietana, assim como a edição de poesias da editora Itatiaia, com o manuscrito, leitura diplomática e atualizada da lírica de Anchieta, versada nas quatro línguas em que escreveu: latim, português, espanhol e tupi.