Imagens que expressam uma revolta diante do tempo são tão recorrentes e têm tanta força em 'Visões do medo' que vale a pena examiná-las e interpretá-las mais detalhadamente. Uma delas, o tempo circular das sociedades tribais e civilizações arcaicas. Outra, o tempo linear, progressivo, da nossa civilização. O tempo circular é aquele dos fenômenos cósmicos e da natureza, com seus ritmos, ciclos e repetições. Correspondem a eventos mágicos, ao encontro de dois planos, temporal e atemporal, transcendente e imanente, sagrado e profano. Em contraste, em nossa civilização o tempo é série linear, feita de eventos sucessivos e únicos. A história, em nossa cultura, é movimento dotado de sentido, progressivo; confunde-se com o crescimento do saber e com o acúmulo da riqueza. Mas não para Beth Brait Alvim, que vê o tempo muito mais como um crescimento da repressão e perpetuação da dor. Beth Brait Alvim não é dualista, e não vê chances de transcendência do tipo religiosa; tampouco é tradicionalista, e por isso não antevê a recuperação de um tempo arquetípico, primordial, menos ainda, de retorno a um passado utópico, idealizado. É claro que mudar o mundo por meio da poesia supõe um uso ou função mágica da palavra - daí as constantes referências a rituais e bruxarias. E uma solidariedade ou cumplicidade com os criadores visionários ou delirantes. Um desafio que ressoa nas páginas deste 'Visões do medo', e lhe confere vigor e alcance profético na razão direta de sua consistência e seu compromisso com a palavra poética.