Um dos maiores clássicos da antropologia, O ENIGMA DO DOM avalia o papel e importância do "Dom" no funcionamento das sociedades e na constituição do laço social. A perspectiva geral adotada pelo autor renova profundamente a nossa compreensão dessa dinâmica. De fato, Maurice Godelier analisa as coisas que se dão ou aquelas que se vendem a partir das coisas que não se dão ou não se vendem, das coisas que se guardam e que se devem guardar, entre as quais objetos sagrados aparecem em primeiro lugar. O ENIGMA DO DOM mostra que é totalmente possível dar um objeto e ao mesmo tempo guardá-lo. O que é dado é o direito de usá-lo para outros dons, o que é guardado é a propriedade, inalienável. Mas ainda é preciso explicar por que esta regra de direito se aplica aos objetos preciosos que se podem dar e não aos objetos sagrados que se devem guardar. A coisa se esclarece quando emerge o que está escondido no objeto, o imaginário associado ao poder. A questão central de O ENIGMA DO DOM é vital para as ciências humanas, apesar de pouco estudada até aqui; a saber, a da inalienabilidade, a existência de bens que assumem o valor máximo de uma sociedade exatamente pelo fato de não circularem. Para entender a relação entre estes bens e seus "proprietários", doador e coisa, Godelier retoma suas teses anteriores sobre economia e dominação, representação simbólica e real, a relação entre material e ideal, moeda e valor, a elas incorporando as reflexões de 1982 sobre rito, mito, gênero e parentesco. Godelier explica a distinção entre objeto precioso (que se dá) e sagrado (que se guarda). Reduzida a troca a regra de direito, realizariam os objetos sagrados e inalienáveis "a síntese do real com o imaginário que compõem o ser social do homem". E revela-se, portanto, que toda sociedade encerra dois conjuntos de realidades: algumas, substraídas à trocas, aos dons, ao mercado, constituem os vários pontos fixos necessários para que as outras circulem. E é precisamente a redefinição das referências fundamentais do fato social que constitui a tarefa maior do pensamento político hoje.