Após o abandono da crença em Deus, a poesia é aquela essência que toma seu lugar como redenção da vida, lembra Terry Eagleton ao citar o poeta Wallace Stevens. Mas se a essência é a própria expressão da beleza, então a Bíblia não deveria ser a fonte primeira, a síntese de tudo, na qual reside a beleza e a salvação? Os capítulos reunidos nesse belíssimo livro, organizado por João Leonel, abrem novas veredas para essa questão aparentemente insolúvel da fé e da fruição por meio da leitura bíblica. Ou, melhor dizendo, da palavra que assume a vocação salvacionista, capaz de conduzir o leitor/ouvinte a uma experiência mística, embora não se descuide de seu valor estético. Reside, talvez, nessa aparente dualidade fé/fruição o fascínio que os leitores ateus da Bíblia despertam, particularmente quando o trato com a palavra constitui sua profissão de fé. O maior mérito de Bíblia, Literatura e Recepção consiste em extrair da Palavra o seu valor estético, a sua beleza, reafirmando, outrossim [...]