Assim, pela primeira vez na História, a solidariedade entre o funcionamento social e o da família fraturou-se: a família, agora, protege os filhos da sociedade! Com o que aparece outra novidade: por não estar mais naturalmente forçada ao trabalho que a leva a renunciar a seu todo-poder infantil e a se separar de seus primeiros outros, a criança vê-se como que convidada a recusar esse trabalho. Deve ser o que já queria indicar, de maneira premonitória, Lacan, ao fim de um congresso sobre as psicoses da criança em 1968, quando evocava a época futura como a da criança generalizada. Em outras palavras, uma época em que permanecer criança nada teria de repreensível, seria até, ao contrário, implicitamente favorecido. É por essa incidência sobre a educação que as mudanças induzidas pela evolução de nossas sociedades avançadas podem determinar modificações nas subjetividades. Entretanto, apoiando-nos no que Freud e Lacan nos ensinaram, podemos afirmar que a condição de ser falante sempre supõe ter consentido na perda. Uma primeira vez, por lá ter estado como convidado por seus primeiros outros - de hábito, os pais - logo, como que forçado do exterior. Uma segunda vez, por ter tido que interiorizá-la.