As gotas de Cibely Zenari atravessam todo o texto. O feminino, a maternidade, o dentro vão se manifestando em cada conto, úmido. Escrito num tempo estranho, Gota é uma tempestade, vista da janela. Ela já avisa no início: o tempo se marca em pingos de espera, e antecipa que a vida comum é só tudo isso mesmo. A vida comum, o aluguel, o emprego, as contas, a escola do filho, o desejo de um grande amor, o medo da morte. Só que desta vez, o medo da morte se escreve com maiúsculas, numa trajetória autobiográfica coletiva de quem esteve sob a tempestade quando ela chegou. Cibely nomeia suas muitas mulheres para que existam pela potência de uma corda vocal. Elas falam e pedem, não mais por uma vida melhor, apenas para sobreviverem. Elas soam para que amanhã exista, para que a história continue e para que elas mesmas possam contá-la. Num mundo pandêmico e desesperado suas personagens precisam tomar decisões diante do cotidiano. Escolher, às vezes, é fazer nenhuma escolha diz a (...)