Os treze 'Contos antológicos de Domingos Pellegrini' formam um abrangente painel da produção literária de um dos mais importantes contistas brasileiros contemporâneos. Autor premiado - ganhou o Prêmio Jabuti logo na estréia em 77 como escritor, com o volume de contos 'O homem vermelho' - Pellegrini constrói suas narrativas com uma linguagem elaborada que permite atingir, ao mesmo tempo, grande simplicidade e grande profundidade. A partir da retomada de histórias e paisagens da infância - nascido em Londrina em 1949, no auge do cultivo do café - Pellegrini constrói narrativas contemporâneas; o choque com a injustiça do mundo, os conflitos sociais, os dramas humanos. É pelo olhar de menino, transfigurado pelas experiências da vida, que Pellegrini descortina com lirismo e ironia a vida atual e os homens presentes. Pellegrini é mestre na arte do conto. Mantendo uma estrutura narrativa em grande medida linear, o autor opera em diversos planos que se entrecruzam; as percepções dos personagens, os conflitos familiares, a inevitabilidade dos fatos do mundo. São histórias que provocam no leitor delicados choques - como a morte da dona do hotel em A última janta, a descoberta do sexo em O aprendiz, a fragilidade da figura paterna em Visita ao zoológico. Pellegrini reconstrói mundos inteiros por um fio de memória, numa espécie de Proust de linguagem contida. Mas, ao contrário do escritor francês, o tempo perdido não se busca; ele é a pedra de toque para compreender e ver melhor o mundo atual. A atuação política do escritor - no movimento estudantil foi um dos organizadores do célebre Congresso da UNE em Ibiúna e atuou no movimento pela anistia e direitos humanos - aparece como marca d´água em sua literatura. O tema da ditadura só aparece tematizado em um dos contos da antologia, Subterrâneos, mas por um viés que diz respeito à solidão e ao humanismo. No entanto, o inconformismo e a crítica estão sempre presentes, junto com uma grande voltagem emocional.