'A Cidade e as Serras' discute o paradoxo da modernidade - o homem tem tudo ao alcance das mãos, mas há algo que lhe escapa, que não sabe mensurar. Jacinto de Tormes é o burguês típico - acompanha os avanços tecnológicos de sua época, dá festas chiques, come em restaurantes caros, lê e discute filosofia; desfruta, enfim, de todos os bens inventados pela civilização. Não obstante, Jacinto, de absolutamente orgulhoso e esbanjador, vai arqueando; torna-se pessimista. Nada basta e tudo enfastia. Depara-se com as insuficiências do ser, com o absurdo da vida e, diante de toda a ventania das informações, das descobertas e das edificantes elucubrações, sente tédio. Zé Fernandes, o narrador da história e amigo de Jacinto, surpreende-se, certo dia, com a intenção de Jacinto de ir às serras de Portugal a fim de reconstruir a capela de seus ancestrais. É lá, em contato direto com a natureza, distante de qualquer adorno da cidade, que Jacinto vigora-se e descobre a beleza da simplicidade, o contato com a terra e a boa comida.