Quinet parte para o palco onde os atores emprestam magistralmente seus corpos para dar voz ao sintoma como mensagem cifrada que guarda a verdade do sujeito, mantendo-a em seu lugar, o do "semidizer". A peça se porta talqual uma histérica que faz de seu corpo o palco onde o sintoma é encenado, mas é preciso saber lê-lo para decifrá-lo. Todo o drama está em cena, sem perder as nuances, os enigmas, as dimensões, diz-mensões do dizer que surgem nas entrelinhas. Psicanálise e arte no texto de Quinet bailam e copulam proporcionando um belo espetáculo que aflige o espectador. O sintoma obsessivo e a conversão histérica apresentam a dança do acasalamento sempre fracassado entre o desejo impossível e o desejo insatisfeito, com os passos marcados pela conversão de uma e a ruminação do outro. Até o menos iniciado no pensamento de Freud e Lacan reconhece essa dança algo que lhe diz respeito. A transmissão do drama do ser falante, a impossibilidade da relação sexual, é transmitida com arte e beleza. Tal clareza não reduz o tom enigmático e impactante do texto.