Para o cineasta espanhol Luis Buñuel um surrealista formado por contradições, com seu menosprezo à sociedade burguesa e à religião cristã , estranhezas sempre deveriam fazer parte de seus filmes. Neste livro encontra-se o argumento de que desde a realização do seu primeiro curta-metragem, Um Cão Andaluz, roteirizado em parceria com Salvador Dalí, houve uma coerência de pensamento que estabeleceu para ambos um caminho a seguir. No prólogo do filme, a metáfora de uma jovem moça tendo seu olho rasgado por uma navalha tornou-se cinematograficamente uma verdade estarrecedora e a essência de uma narrativa que transformou e codificou os preceitos surrealistas em dois únicos e universais temas o amor e a liberdade. Vê-se também que a galeria de estilos que se instalou na cinematografia de Buñuel serviu para reafirmar constantemente os traços marcantes de sua obra, dentre eles a polifonia. E é nessa polifonia buñueliana que se distingue o encontro dos filmes Um Cão Andaluz, Viridiana e Bela da Tarde com a pintura Angelus, do realista francês Jean-François Millet, para caracterizá-lo como um elemento constitutivo das reminiscências de Luis Buñuel e de Salvador Dalí. Resulta desse encontro polifônico uma mensagem em comum nas obras aqui apresentadas com o objetivo de expor que todos esses elementos apontam para uma relação com determinadas características medievais pesquisadas pelo russo Mikhail Bakhtin: a morte e os excrementos inseridos na renovação dos desejos sexuais do homem.