O pensador Ernest Becker já dizia que o medo da morte é a verdadeira fonte da fragilidade do homem. No caso de Hilda Hilst, a escritora desestrutura esse conceito ao apresentar a morte não como uma figura inacessível e superior, representativa dos limites e da aniquilação do ser humano, mas antes como um acontecimento bem-vindo, que é acolhido justamente por ser inevitável. Nos cinqüenta poemas que compõem Da morte. Odes mínimas, Hilda evita o tom lacrimonioso e fúnebre que o tema imediatamente sugere, aproximando-se mais de verdadeiros "diálogos" íntimos com a própria morte - que gera, ao mesmo tempo, fascínio e repulsa. Como afirma em sua nota o organizador das obras reunidas de Hilda Hilst, Alcir Pécora, não se trata da morte em geral "(...) ou a morte como alegoria filosófica, mas aquela própria, pessoal, seja na imaginação de sua hora fatídica e única, seja enquanto manifestação (...)". A autora dá diversos nomes à morte, conversa com ela e a trata de "igual para igual", a ponto de transformá-la em um ser com vida própria. Longe da imagem aterrorizante, ela é tratada como companheira que espreita a vida, à espera da sua hora.