O livro de Mariana Medeiros, obra integrante da Coleção Crítica do Direito: experiências sociais e jurídicas, organizada pelos professores Enzo Bello e Ricardo Falbo, é um convite para reflexão informada sobre os conjuntos de símbolos e de práticas que têm produzido a cidade do Rio de Janeiro, nos seus compromissos, históricos e periódicos, com o capital privado. A construção do Parque Olímpico, arregimentando a simbologia perversa da política do legado dos Megaeventos e a captura corporativa da política urbana, da forma-jurídica e da forma-planejamento, conta parte da história que vem desenhando o Rio de Janeiro como cidade-produto, espaço de privilégio da governança flexível que alia o uso casuístico do sistema jurídico com o empresariamento da gestão. Contudo, a cidade não é redutível ao enlace Estado-capital e, nesses termos, o livro também é um chamado para o urbano como modo de vida que se produz à despeito dos acertos às portas fechadas. A história da (r)existência da Vila Autódromo marca a simultaneidade de projetos distintos de cidade, de vida e de visões de mundo que habitam, aqui e agora, nosso espaço e que se afirmam pela sua não equivalência e sua contradição. As trajetórias de luta das famílias contra a lógica da despossessão contam também da desmedida da exploração e da violência e, mais ainda, da força, da criatividade e da potência dos sujeitos, sobretudo mulheres, que reinventam no cotidiano lugares melhores de se viver e com mais chance de futuro. Julia Ávila Franzoni Professora do Departamento de Teoria do Direito da FND-UFRJ Labá Direito, Espaço & Política