O que nos causaria maior escândalo: punição ou impunidade? O homem democrático hesita, oscila e finalmente esquiva-se. A vista das incertezas e das inquietações que ainda amedronta a família humana, o homem moderno, no estado de direito, está aquém de uma resposta adequada à questão proposta. A vergonha, o sentimento de injúria provenientes da impunidade fazem valer o caráter sagrado e intangível com vistas às reparação e o reconhecimento do eu enquanto ser. A punição, mesmo a legítima, não deixa de ser um escândalo aos olhos dos verdugos e do destino dos condenados comumente ultrajados. Neste fluxo contínuo do medo à piedade, do medo por si ao receio do outro, havemos de resignar-nos a ver o destino do homem democrático submetido à oscilação trágica de uma paixão por seu oposto, porque a ele nada lhe importa do que assegurar, a todo custo, a proteção adequada ao indivíduo, seja este vítima ou autor (...)