Trata-se da história atemporal de uma alma que a tragédia tirou dos gonzos e deixou sem prumo; um estudo psicológico com certa profundidade, num clima de tensão conduzido de maneira cirúrgica. Por outro lado, não se trata de livro policial, embora a ação tenha por centro um duplo homicídio; as regras do gênero são deliberadamente subvertidas, sendo o narrador o próprio assassino (desde o início o leitor sabe de tudo). Misto da influência do cinema noir e crítica aos costumes respeitados de maneira quase teatral, comuns em urbes minúsculas, O Monstro traz metáforas de um país dentro de outro país, em que a necessidade de ruptura com os sistemas impostos ou resignados produz monstros capazes de ir além de suas próprias consciências a fim de descobrir o novo.