Deus rico, homem pobre; Deus tudo, homem nada. Tal é a tremenda suspeita que, desde Feuerbach e Nietzsche, envenena as relações entre a modernidade e o cristianismo. O propósito principal deste livro é dialogar com esta suspeita e deixar-se questionar por ela sobre nossas deformações históricas na piedade individual, na teologia oficial ou no sequestro burguês do Evangelho; interrogar, por sua vez, esta suspeita, confrontando-a com a experiência cristã original e pondo a descoberto seus profundos mal-entendidos. Para isso, sem tópicos menosprezos do "Deus dos filósofos", recorre-se, antes de mais nada, ao Deus de Jesus. Ao Deus que em Jesus de Nazaré se mostra como salvação incondicional que afirma o humano em sua mais profunda autonomia; que defende o pobre sem ambiguidades; que, como o "Antimal", está sempre do lado do ser humano e contra o sofrimento e a desgraça. Ao Deus que é o sentido e a alegria profunda da existência daquele que o descobre ou entre descobre. Deus como Pai (Pai-Mãe), já bem aquém de toda a suspeita freudiana, é o símbolo fundamental. Símbolo fascinante e inabrangível que este livro, modesta e dialogalmente, tenta expor ao leitor que sinta, de algum modo, o chamado do "outro"...