Para Elias Canetti a verdadeira substância de um poeta, aquilo que nele transparece como inconfundível, forma-se em algumas poucas noites que se distinguem de todas as demais pela intensidade e pelo brilho. Não sei em quais noites Assis Lima se fez poeta, mas conheço o lugar que deu substância aos seus versos. A morte mirou-o da sombra, mas a vida piscou mais forte. A geografia de Assis Lima não foi a antiga dinastia Thang, época em que na China cada homem era um poeta. Mas uma paisagem agreste, ali no Crato, cariri cearense, em sítios onde o riso e o siso eram praticados como expressão poética do viver. Os 56 poemas que compõem este livro se misturam entre o grave e o hilário, numa dosagem contida e refinada. Um humor arrancado por vezes de ângulos de pedras, permeando poemas epigramáticos e sentenciosos. Provérbios clássicos, reafirmados ou negados, servem de motivo ao poeta. Desconheço onde o galo canta, / mas com ele despertei, / naquela antiga manhã. // Cada lugar traz o seu(...)