Um século após sua aparição, ainda é difícil definir e circunscrever o cubismo com precisão, na ausência de um manifesto ou de declarações claras de algum expoente ou líder reconhecido. Afetando as artes e a literatura, o cubismo foi inicialmente um fenômeno parisiense, embora com muitos protagonistas internacionais, antes de se difundir por outros países. Nesta obra, ilustrada por mais de duzentas reproduções coloridas, Serge Fauchereau propõe uma leitura abrangente, ao mesmo tempo que explora as variações originais injustamente negligenciadas ou desconhecidas do movimento. Via de regra, os críticos e historiadores apontam Les Demoiselles D’Avignon, tela de Pablo Picasso de 1907, como o marco inicial do cubismo. A obra estabelece uma ruptura radical e evidencia a transição a um período negro na produção do artista. No entorno de Picasso já gravitavam figuras como Georges Braque, Juan Gris, Albert Gleizes, Jean Metzinger, Guillaume Apollinaire, Blaise Cendrars e André Salmon, entre outras, assim como personagens que se mostrariam decisivos para a sua expansão, como os negociantes de arte Henri Kahnweiler e, depois, Léonce Rosenberg. O cubismo logo impôs uma certa iconoclastia no status quo das artes. A novidade se caracterizava pela adoção (e combinação) de procedimentos extrapicturais, extraliterários e extramusicais, que levaram a uma revolução estética dos procedimentos artísticos então correntes. Com o cubismo, as fronteiras entre as artes plásticas e outras manifestações artísticas poesia, escultura, música, literatura, teatro se diluem. Assim, a pontuação desaparece e a escrita se faz figurativa, a música incorpora ruídos e outras sonoridades, a página impressa se diversifica, a prática das colagens cria o problema da originalidade do criador. Já em 1923, Milhaud decretava que essas marcas do cubismo forneciam um campo mais vasto, modos de escrita mais ricos, uma escala expressiva mais complexa à sensibilidade, à imaginação e à fantasia do artista criador.