Se tudo pode ser assunto para o artista, precisaria haver um instante nobre em que o assunto se transforma em poesia, do contrário tudo estaria banalizado, tudo seria apenas coleção para o apenas pseudo poeta. Dirão que é o processo. Mas precisa haver, também dentro do processo, um instante caótico, ou muitos instantes caóticos, em que a transformação se dá e a coisa de fato anda. Esse instante é o que Rômulo Moraes parece tentar congelar nos poemas de Casulos. É um pouco uma meditação, um ficar parado enquanto a coisa se forma, mas também uma espontaneidade, um escrever quase sem perceber e torcendo para que a sabedoria invada as palavras na correria (a cruz do Twitter). No entanto, o instante é também envenenado por Rômulo, e pelo bem do instante. Todos sabem que hemoglobinas, lápis-lazulis e bergamotas não habitam a vida de um rapaz como ele, mas todos sabem também que esses entes são acessíveis, porque dê ao escritor um instante aparecem no seu horizonte de pesquisa alquímica, que é logo o horizonte da memória e logo, logo, o da presença. Tudo com pinça, cardápio e gentes, nesse devir aí. A meu ver, Rômulo tenta que tudo habite um estado de graça e futilidade das palavras. Nada de novo, portanto, mas casulos reais, modelos nascentes para ele e agora passados adiante. Mario Cascardo