"LIDAR COM O RESTO, DAR LUGAR A ELE, no avesso do politicamente correto, para escorar a fantasia de cada um, inclusive nas situações mais drásticas, pode ser a aposta lacaniana para reavivar, sem nostalgia do ideal e sem fascínio pelo cinismo, a resposta, em escala individual, do psicanalista ao desencantamento pós-moderno do mundo. Algo semelhante a alguém localizar do alto do Corcovado um pequeno detalhe na paisagem urbana - um ponto de ônibus repleto, um futebol de várzea - que anima o postal contemplado. Isso, que repercute em sua intimidade, insere nosso sujeito no plano do que, na cidade vista de cima, bule e o faz habitar o que vê: nem divina obra, nem retrato da maldade do homem, mas apenas sua, intensamente sua, cidade."