A tragédia de Antígona começa com um decreto de Creonte que proíbe o enterro de Polinices, seu irmão. Antígona quer obedecer a outra lei, mais antiga: a lei dos deuses mais antigos, honrar o irmão morto e enterrá-lo. A tragédia começa com Antígona contando seu plano a Ismênia, fora do palácio. Ismênia teme o destino da irmã, mas não participa da ação. Antígona vai sozinha. Final de abril, início de maio, 2020. Estávamos lendo Antigonick de Anne Carson a sua tradução para a Antígona de Sófocles enquanto o Brasil vivia o início da sua experiência catastrófica com a pandemia do coronavírus. Os curtos-circuitos que Anne Carson promove na história da recepção de Antígona e sua tentativa de correspondência entre o real e o ficcional (Carson faz uma carta endereçada à personagem; o grito de Antígona chega aos nossos ouvidos) fabricaram a energia que desembocou no desdobramento de nossa leitura em uma série de cartas: para Antígona, para a sua irmã, Ismênia, para Hêmon, mas também (...)