Uma boa orelha de livro pincela o essencial, ilumina certos pontos, mas jamais entrega tudo. Até porque seria imperdoável ler este livro de orelhada. Três Maneiras de Gritar em Silêncio, de Felipe Vieira De Galisteo, é para ser lido com os olhos e ouvidos da alma, percorrendo cada reticência, cada exclamação, cada interrogação verdadeiras preciosidades gráficas numa época que a nossa poesia parece ter fixado lugar no minimalismo vocal. É para ser lido em voz alta: cuidando das inflexões, pausas, ritmo e, sobretudo, da melodia. Destaca-se, das características mais marcantes que atravessam a obra, a musicalidade da escolha das palavras ao tamanho dos versos. Somos tentados a localizar o novo poeta numa constelação conhecida. Felipe, consciente ou não, dialoga com uma tradição poética latino-americana fora de lugar perante a dicção contemporânea cheia de vazios, silêncios e concisão milimétrica. Ele abraça o poema longo e intimista. A voz, nesta obra, faz coro com um Abgar Renault, uma Adalgisa Nery, um Paulo Mendes Campos, só para lembrarmos de uma poesia surgida depois do furacão modernista (e hoje em dia olvidada). Impossível ignorar: os versos de Felipe são vasos comunicantes da sua longa experiência no palco. Ele constrói monólogos de intensa vida interior, reflexivos e contemplativos, nestes poemas de alta voltagem lírica e furor imagético. Aqui, tudo é transbordamento, sinceridade, entrega. Há sangue pulsando em cada página.