Quem leu as Memórias de um Sargento de Milícias na escola talvez guarde na lembrança o frescor da narrativa e a vivacidade das personagens. E não sem razão: é difícil resistir à simpática irreverência do protagonista, o malandro e brasileiríssimo Leonardo. Cômico e realista, o romance é geralmente tido como um retrato literário do Brasil festivo e conciliatório. Pois bem, este estudo que o leitor tem em mãos nos revela um Sargento de Milícias bem diferente. Era no Tempo do Rei se volta para o avesso da simpatia malandra e investiga o substrato conflituoso das relações interpessoais que vigoram no mundo ficcional e na sociedade brasileira oitocentista. Trata-se de demonstrar que a sociabilidade manifestada nas relações, combinando afabilidade e violência, configura um espírito rixoso que impulsiona os comportamentos. Este o seu principal achado: uma estrutura de rixas que comanda a narrativa e formaliza a matéria histórica brasileira de maneira insuspeitada, pois é na guerra pelo trabalho que Edu Teruki Otsuka descobrirá o fundamento social da lógica rixenta que o ritmo do romance estiliza.