Logo na epígrafe de seu mais novo livro de poemas, A aurora no bocejo de um tilacino, Francisco Gomes sinaliza, com uma citação de Jorge de Lima, que trabalhará com a metáfora da metáfora: Não procureis qualquer nexo naquilo que os poetas pronunciam acordados. Assim como o vate de Invenção de Orfeu, Francisco Gomes, em versos esfíngicos, canta o ansioso caos interior e o sentimento agônico do ser, num mundo que não é mais dele, porquanto o inventivo poeta, bem ao contrário da poesia hodierna que se quer social, transcende a temática meramente social e foca seu discurso na epifania do verbo no instante intuitivo. Desses bardos quase não os temos no tempo presente. Daí o recurso à metáfora do tilacino, um marsupial da Tasmânia o maior de que se tem notícia hoje extinto, bocejando seus assombros e miasmas na aurora de um mundo imemorial. Para percorrer esse bocejo, Francisco Gomes é erudito, mas não pernóstico, invocando vários ícones da cultura universal em seu processo (...)