Tema recorrente e polêmico nos meios literários, não é recente a discussão sobre a literatura brasiliense, que vem se impondo mais pelo desejo de se estabelecer um marco de sua existência e torná-la conhecida e menos pela apropriação, pela linguagem, de seu espaço e de sua realidade social e psicológica. Ainda que as obras editadas não se caracterizem genuinamente como de Brasília porque seus autores não trazem no seu bojo o suporte fático do homem ou dos cenários capazes de instaurar uma leitura da cidade, ou porque estão impregnadas de suas influências culturais, valores, peculiarida-des e costumes de origem a criatividade literária na Capital da República, apesar desses sotaques e dicções, vem atestando tanto uma vasta bibliografia, quanto a qualidade das obras. Referir-se a uma literatura brasiliense, capixaba, paulista, amazonense, goiana, sulista ou nordestina é tão provinciano e inócuo como rotular outra de masculina, feminina, infanto-juvenil, negra, erótica ou engajada. Nenhuma adjetivação as legitima, senão a qualidade. O que há, verdadeiramente, é uma literatura de bom ou mau nível, feita por mulheres e homens, circunstancialmente vivendo num ou noutro lugar, com suas raízes afetivas, temporais e físicas diversas, mas literatura brasileira. É ela o verdadeiro referencial ético e estético, que fornece sempre aos leitores obras que ultrapassam as fronteiras geográficas e temáticas e que funcionam como parâmetros de uma época. Assim, os contos produzidos em Brasília podem ser lidos, compreendidos e sentidos, não porque foram escritos a partir (ou por gente) daqui, mas porque falam de realidades próximas e universais, daquilo que há de real e onírico na condição humana. Todas as gerações - o conto brasiliense contemporâneo não pretende ser delimitador de uma fisionomia literária, com DNA, carteira de identidade e outras conformações oficiais e estanques. É, antes de tudo, reprodução da tessitura de várias gerações. Inclui autores que chegaram ainda nos primórdios da construção, outros que vieram durante o processo de consolidação da Capital e uma nova geração, esta representada por aqueles nascidos na cidade, cujas obras já se utilizam do imaginário local. Revela, ainda, diversas experiências estéticas, na pluralidade de linguagens e estilos, que constroem a polifonia literária da cidade. Todas as gerações é mais uma picada aberta na tentativa de se perceber, registrar e fixar historicamente a memória da produção literária local, dialogando com diversas tendências e faixas etárias. É a voz dos escritores que escolheram a cidade (e foram acolhidos por ela) para viver e criar, realizando uma arte multifária, que oscila entre os grilhões da tradição e do cânone e o terreno ousado das vanguardas, rupturas e experimentações. Esse painel de veteranos e novatos, de premiados ou não, a mostrar a sua cara, simboliza o Brasil e sua diversidade, pois concentra várias estruturas narrativas e explicita a versatilidade temática e formal, na linha do espírito heterogêneo e renovador inaugurado com a Nova Capital; também objetiva comunicar o amplo espaço da imaginação numa cidade em permanente transformação, convidando o leitor a conhecer nossa literatura e, quem sabe, estimular o seu consumo e criar um mercado para os autores locais.