Agora Guilherme Gontijo Flores me vem com essa, de escrever com os ouvidos. Porque Naharia é esse poema esticado em que duas gerações se conversam: uma velha senhora que conta suas histórias com parênteses / que parecem simplesmente intermináveis / quase como conversa que desinteressa, nas voltas infindas da fala, e um ouvinte todo silêncios e disponibilidade. Naharia foi escrito não apenas com as formas da prosa, e, portanto, da fala comum, como também com as formas da escuta, numa deriva doidivanas / dessas que só se sai / parando noutra. Formas da escuta: porque quem fala é a velha, mas a posição do escritor é ainda a do tradutor (Guilherme a mim não me engana). Agora Guilherme Gontijo Flores me bota nessa, de ler de orelha essas histórias que não são nossas por direito, e que nos são ofertadas, em nosso breve tempo atrofiado, e me sai com essa, de inventar formas da escuta, porque sabe que a escuta morreu, e me vem com essa, de inventar que os ouvidos existem, nessa narrativa em que tudo é corpo, e me bota nessa, inventar uma orelha que seja ela mesma invenção da escuta, que não foi a minha, mas dele. Onde encostar a cabeça para escutar o que não se pode escutar? Aconselho o chão como mais indicado, responde a narradora. Rafael ZaccaAgora Guilherme Gontijo Flores me vem com essa, de escrever com os ouvidos. Porque Naharia e esse poema esticado em que duas geracoes se conversam: uma velha senhora que conta suas historias com parenteses / que parecem simplesmente interminaveis / quase como conversa que desinteressa , nas voltas infindas da fala , e um ouvinte todo silencios e disponibilidade. Naharia foi escrito nao apenas com as formas da prosa, e, portanto, da fala comum, como tambem com as formas da escuta, numa deriva doidivanas / dessas que so se sai / parando noutra . Formas da escuta: porque quem fala e a velha, mas a posicao do escritor e ainda a do tradutor (Guilherme a mim nao me engana). Agora Guilherme Gontijo Flores me bota nessa, de ler de orelha essas historias que nao sao nossas por direito, e que nos sao ofertadas, em nosso breve tempo atrofiado, e me sai com essa, de inventar formas da escuta, porque sabe que a escuta morreu, e me vem com essa, de inventar que os ouvidos existem, nessa narrativa em que tudo e corpo, e me bota nessa, inventar uma orelha que seja ela mesma invencao da escuta, que nao foi a minha, mas dele. Onde encostar a cabeca para escutar o que nao se pode escutar? Aconselho o chao como mais indicado , responde a narradora. Rafael Zacca