A trajetória de um militante pode reconstituir a história dos movimentos do grupo social a que pertence? As memórias de Bráulio Rodrigues - uma saga desde os anos 40 do século XX - trazem-nos, com todas suas descontinuidades, signos dos nossos dois agrarismos. O de tipo político - com o qual o PCB construiu a rede sindical no país - emerge em Minas Gerais no ocaso do Estado Novo, indo depois o narrador para o Rio de Janeiro. Andanças e intenso associativismo sindical pela terra. Alguns lugares/trajetórias: Pedra Lisa e Imbé; a Falerj e o Congresso Camponês de Belo Horizonte. Caxias e Cachoeiras de Macacu. E a aliança "Operário-camponesa" no apoio sindical citadino de Benedito Cerqueira e Roberto Morena. Tempos de Jango e da Supra, até 1964. Sem democracia no país, a fala do militante se fratura. Com a vitória do MDB de Ulisses Guimarães em 1974, tem curso o segundo agrarismo. Bráulio vai estar na construção da CPT de Dom Adriano Hipólito. A luta pela terra se move com outros personagens parecidos. Um único nome: a Irmã Josefina, o quadro de Dom Adriano. Esta mobilização religiosa também se faz presente na resistência aos despejos dos conjuntos do BNH, em Nova Iguaçu, em 1978. Mais dois personagens: a Fetag e o Incra. O relato vem aos anos 90, época construtiva nos assentamentos, o militante engajando-se na Secretaria de Assuntos Fundiários. A memorialística se dilui como reconstituição da atividade camponesa. (Raimundo Santos, Professor do CPDA/UFRRJ).