"Pedi para entrevistar o ministro de esportes argentino. Não tinha a menor intenção em ouvi-lo. É preciso agora confessar que não passava de um vergonhoso golpe. O que eu precisava era entrar no prédio da Secretaría de Deporte, Educación Física y Recreación, o equivalente à pasta de esportes daqui. Chegar até a Avenida Miguel B. Sánchez 1050, enganar com algumas perguntas e botar em prática a última parte do plano: dar uma desculpa e conseguir autorização para ir ao teto do prédio. O prédio fica exatamente no meio do caminho entre o Monumental de Nuñez e a Esma (Escuela Superior de Mecánica de la Armada), o maior campo de concentração e genocídio das ditaduras do continente. Quatro décadas depois, tentar mostrar em imagem a aberração que foi tudo aquilo: enquanto se jogava uma final de Copa do Mundo, gente era torturada. Entre um e outro, 700 metros de distância. Impossível não perder a respiração ali quando se consegue estabelecer no raio do seu olhar a dimensão do absurdo.[...]